sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Ruínas de um novo castelo

Bom, já faz tempo que estou querendo escrever por aqui de novo. Por mais que não pareça, não gosto de deixar este blog abandonado às moscas. E sempre que vocês acham que se livraram de mim, eu volto. Eu SEMPRE volto. Comecem a desconfiar se eu ficar mais de um ano sem dar nem um oizinho. Não. Acho que nem isso. Afinal, a minha idéia inicial era escrever pelo menos uma vez por mês. E considerando a queda drástica no número de posts desde o primeiro ano deste blog, acho que, sendo otimistas, vocês podem esperar uns três textos pro ano que vem. Se essa queda geométrica continuar, com sorte em 2011 eles terão acabado por completo. Ou não.
Seja como for, cá estou eu de novo, e nem tenho nada muito estruturado pra dizer. Mas se você está lendo isto aqui não está mesmo esperando nada bem escrito, então estamos nos entendendo.
Eu comecei um trabalho terapeutico dos mais tradicionais. Sim, daqueles em que você fica dentro de uma sala junto com outra pessoa cujo nome você mal sabe e o objetivo é lembrar e contar o maior número de podres sobre si mesmo por minuto. Com obstáculos. Ah sim, muitos obstáculos. E tem direito a divã e um olhar piedoso de brinde no final da consulta.
Bom, já é possível notar que o progresso é lento. BEM lento. É como a velocidade de translação de plutão, divida por cinco. Cinco mesmo, pois esse é mais ou menos o número de sessões que eu tive até agora. Porém, não se engane. Não significa que não fez diferença. Na verdade, a diferença já é BRUTAL, no seu sentido mais pesado e cruel. O que demora é essa mudança poder ser notada e aplicada. Em termos não tão técnicos, estou sendo atingida por coisas que eu (meio que) já sabia com a força de uma patada de elefante, mas ainda estou longe de saber o que fazer com isso. E a sensação de se ter coisas que você reprimiu por tanto tempo coabitando a mesma mente que você usa para fazer compras é simplesmente DESESPERADORA.
Não sei se quero rir ou chorar, na maioria das vezes. Meus problemas parecem ainda mais patéticos quando proferidos em voz alta. Ao mesmo tempo, vão ganhando uma densidade que eu dificilmente perceberia antes, vão se tornando mais e mais difíceis de ignorar. O verdadeiro desafio em não reconhecer seus próprios melindres como medos dignos de um ser humano é justamente se assumir como tal. Mas se não sou um ser humano, por que preciso de terapia?
Basicamente, vivo em um dilema constante em forma de ciclo vicioso. Me acho uma idiota inferior a todos os seres pensantes >> acho uma idiotice ter problemas desse tipo >> me acho mais idiota justamente por pensar que sou uma idiota. Será que estou me fazendo entender? Mas a parte verdadeiramente assustadora é perceber que nada disso importa. Não importa que eu saiba por A + B que não sou nem física nem mentalmente inferior a ninguém. No fim, o meu pensamento mais puro e simples é constituído da idéia de que eu não mereço nem as sobras do universo. E eu não sei por quê. E eu não sei como fazer para derrubar uma estrutura de mais de vinte anos e contruir outra diferente em menos de dez. E eu me sinto fraca, impotente e sozinha. E o que eu consigo fazer ao pensar nisso, por enquanto, é chorar. Apenas chorar. Incessantemente. Incontrolavelmente. Desesperadamente.


Eu preciso de ajuda.


Au revoir.


sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Canção da indiferença.

Eu me sinto muda. Aqui, neste ambiente minúsculo, barulhento e apertado, em que todos querem (e até precisam!) se fazer ouvir, eu me sinto muda. Não importa o quanto eu tente gritar, parece que a minha voz foi roubada, ou então alguém apertou o “mudo” do controle remoto, sei lá. Por que por mais que se queira fazer ouvir, cada vez menos se quer escutar. Todos tapam os ouvidos, mas todos se calam também. Não que estejam quietos, veja bem! Falam pelos cotovelos, como se a vida dependesse de não calarem as bocas um só segundo. Mas ninguém quer realmente dizer nada. Ou talvez não consigam.

Mas afinal, por que toda essa apatia? Por que todos fingem não ver nem ouvir nada? Será que enquanto fingirmos que os problemas não estão ali, eles não serão problemas? Ou será que vão desaparecer porque agimos como se nunca tivessem existido?

terça-feira, 28 de abril de 2009

Encruzilhada.

Olá pessoas. Acabei de ler isso e tive vontade de dividir com vocês. Faz tempo que eu não postava aqui textos inteligentes, não? De qualquer forma, Sebastien Faure, o autor do trecho que aqui vos apresento tentou, por meio de doze argumentos, provar a inexistência de Deus. As objeções, como vocês já podem imaginar, foram inúmeras. Uma delas eu transcrevo aqui, com a respectiva resposta dele. Deixo agora com vocês o encargo de acreditar ou não em Deus. Eu, por minha vez, não pude deixar de aplaudir o Faure.
Ah, sim! Caso você tenha interesse, aqui estão as Doze provas da inexistência de Deus.

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1ª objeção: “Deus escapa-vos!”

Dizem-me:

“O senhor não tem o direito de falar de Deus segundo a forma que o faz. O senhor não nos apresenta senão um Deus caricaturado, sistematicamente reduzido a proporções que seu cérebro abarca. Esse Deus não é nosso Deus. O nosso Deus não o pode o senhor concebê-lo, visto que lhe é superior, escapando por isso à suas faculdades intelectuais. Fique sabendo que o que é fabuloso, gigantesco para o homem mais forte e mais inteligente, é para Deus um simples jogo de crianças. Não se esqueça que a Humanidade não pode mover-se no mesmo plano que a Divindade. Não perca de vista que é tão impossível ao homem compreender a maneira como Deus procede, como os minerais imaginar como vivem os vegetais, como os vegetais conceber o desenvolvimento dos animais, e como os animais saber como vivem e operam os homens.

Deus paira a umas alturas que o senhor é incapaz de atingir ocupa montanhas inacessíveis ao senhor. Qualquer que seja o grau de desenvolvimento de uma inteligência humana; por muito importante que seja o esforço realizado por essa inteligência; seja qual for a persistência deste esforço, jamais poderá elevar-se até Deus. Lembre-se, enfim, que, por muito vasto que seja o cérebro do homem, ele é finito, não podendo, por conseqüência, conceber Deus, que é infinito.

Tenha pois a lealdade e a modéstia de confessar que não lhe é possível compreender nem explicar, não o cabe o direito de negar”.

Eu respondo aos deístas:

Dais-me conselhos de humildade que estou disposto a aceitar. Fazeis me lembrar que sou um simples mortal, o que legitimamente reconheço e não procuro olvidar-me.

Dizeis-me que Deus me ultrapassa e que o desconheço. Seja. Consinto em reconhecê-lo; afirmo mesmo que o finito não pode compreender o infinito, porque é uma verdade tão certa e tão evidente, que não está em meu ânimo fazer-lhe qualquer oposição. Vede, pois, até aqui estamos de acordo, com o que espero, ficareis muito contentes.

Somente, senhores deístas, permiti que, por meu turno, eu vos dê os mesmos conselhos de humildade, para terdes o franqueza de me responder estas perguntas: Vós não sois homens como a mim? A vós, Deus não se depara como para a mim? Esse Deus não vos escapa como a mim? Tereis vós a pretensão de moverdes no mesmo plano da divindade? Tereis igualmente a mania de pensar e a loucura de crer que, de um vôo, podereis chegar às alturas que Deus ocupa? Sereis presunçosos ao extremo de afirmar que o vosso cérebro, o vosso pensamento que é finito, possa compreender o infinito?

Não vos faço a injuria, senhores deístas, de acreditar que sustentais uma extravagância venal. Assim, pois, tende a modéstia e a lealdade de confessar que, se me é impossível compreender e explicar Deus, vós tropeçais no mesmo obstáculo. Tende, enfim, a probidade de reconhecer que, se eu não posso conceber nem explicar Deus, não o podendo, portanto, negar, a vós, como a mim, não vos é permitido concebê-lo e não tendes, por conseqüência, o direito de afirmá-lo.

Não julgueis, no entanto, que, por causa disto, ficamos na mesma situação que antes. Foste vós que, primeiramente, afirmastes a existência de Deus; deveis, pois, ser os primeiros a pôr de parte vossas afirmações. Sonharia eu, alguma vez, com negar a existência de Deus, se vós não tivésseis começado a afirmá-la? E se, quando eu era criança, não me tivessem imposto a necessidade de acreditar nele? E se, quando adulto, não tivesse ouvido afirmações nesse sentido? E se, quando homem, os meus olhos não tivessem constantemente contemplado os templos elevados a esse Deus? Foram as vossas afirmações que provocaram as minhas negações.

Cessai de afirmar e eu cessarei de negar.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Velhos hábitos...

Saudações, bons e velhos e assíduos leitores, é bom vê-los de novo depois de um intervalo de menos de trinta dias para variar. Não que eu tenha nada de útil para dividir com vocês, apenas desisti de pensar que um dia eu possa ter. Passemos então às baboseiras de sempre.
Eu sou invisível. Ponto. Simples assim.
Não no sentido espectrometral da coisa. Eu sou até bem mais visível do que eu gostaria. Porém sempre tenho a sensação de estar cuidadosamente posicionada sobre um ponto cego, do qual somente as pessoas certas podem me ver. E é definitivamente um sentimento engraçado ter que viver aparecendo e desaparecendo o tempo todo como um Mister M.
E mais: posso dizer que vivo nessas condições há aproximadamente oito anos. Mais incrível ainda é saber que antes do aparecimento desse véu funesto eu até sabia o que fazer da minha vida.
O problema é que este superpoder não me serve mais de nada. Há muito eu tento encontrar o botão pra desligá-lo, mas parece que ele não veio como opcional de fábrica. Consultando uns tutoriais vida afora, descobri que há, sim, um jeito infalível de tornar meu ser visível para uma ou mais pessoas ao mesmo tempo: basta que eles ouçam a minha voz. Mas como ter certeza de que o que eles vão ouvir não vai lhes tirar a vontade de ver a origem do instrumento?
Au revoir.

domingo, 22 de março de 2009

Jogo da vida.

"Você está acostumada a perder, né?"
Foi o que me disseram hoje. Acho que perder é algo com o que a gente jamais deveria se acostumar. Mas na verdade, eu devo admitir que perdi poucas coisas na minhas vida. A maioria, eu nem tive a coragem de tentar buscar. É disso que eu tenho tanta vergonha. Vergonha de admitir que eu tenho vergonha de viver.
Isso é algo tão ridículo que a maioria das pessoas nem deve conseguir imaginar como é. Nem eu consigo entender direito como funciona. Por alguma razão, eu me convenci há muito tempo que, sei lá, não tinha direito a nada por ser inferior. Não sem antes, é claro, me convencer de eu era mesmo inferior. De uns tempos pra cá eu aprendi a pensar, digamos assim, e aprendi com a política comunista e com John Locke (calma, eu sei que de comunista, Locke não tinha nada) de que todos os seres humanos são iguais e detêm os mesmos direitos como tais. Ótimo, então eu não sou inferior a ninguém e posso fazer tanto quanto qualquer um pode. Mas, espera aí, eu NÃO sou comunista, com os diabos! Nem mesmo sei o QUE esse john Locke pode me dizer para provar a tal teoria da Tábula Rasa. Porque então eu deveria acreditar, de verdade, que NÃO sou inferior a ninguém e que na verdade sou eu mesma que me coloco nesta posição? E é aí que a história fica mais triste. Porque ninguém me disse, eu vi acontecer. Diante dos meus olhos. Milhares de exemplares humanos se transformando bem na minha frente.
Sabe aquela história da fé? De que se você acredita com força, seu desejo se realiza? É a mais pura verdade e eu demorei pra perceber. Não significa que se você acreditar com vontade o teu deus vem te recompensar no fim da vida. Nem que se você ficar esperando ao pé da cama o coelhinho da páscoa vai te trazer um ovão do tipo que você quiser. Nada disso. Significa que se você acreditar em SI MESMO, vai fazer acontecer. Vai trabalhar por isso sem ter medo do fracasso nem desanimar por causa dele. E a parte mais legal é que você trabalha tanto que nem vai se dar conta do seu esforço no final.
E essa premissa vale pra absolutamente qualquer parte da sua vida. É incrível. Parece mesmo um tipo de sorte a que somente alguns agraciados têm acesso. Dá a impressão de ser injusto, mas não é. Depois que você descobre isso, é fácil entender até mesmo porque é impossível que alguém ame uma pessoa que não se ama. Quem não se ama faz uma espécie de "propaganda negativa" de si mesmo, mesmo que não perceba. Quem não acredita que vá conseguir alguma coisa desiste antes de tentar. E se tentar, vai fracassar da primeira vez só pra poder dizer "eu sabia que não conseguiria" no final. Pode parecer apenas uma palhaçada auto-piedosa (e é), mas no fundo, é mais que isso. É mais do que um sentimento patético de impotência. Eu não sei explicar e não posso provar. Mas é. TEM QUE SER.
Au revoir.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Esconde - esconde.

(Reforma ortográfica, me erra. Grata.)

Sim, sou eu mesma. Não, eu também não acredito. Mais de 3 meses de ausência e nem um bilhetinho. Por que será que só tento escrever aqui quando algo me machuca tanto que nem sei por onde começar?
Acho que já desisti de fazer disso aqui um blog decente, mesmo que ainda tente manter um certo nível de complexidade para parecer que não sou tão tapada. Provavelmente não adianta nada, mas anyway, não vou começar a iXcReVer aXiM só pra me enturmar. Me recuso. Apesar de que essa tal reforma ortográfica apareceu numa hora muito imprópria (aliás, sou contra. A pobre trema está sendo injustiçada: quem irá dizer aos pobres estrangeiros autodidatas que "lingüiça" não se lê da mesma forma que "preguiça"? Ela nunca foi desnecessária, ao menos para fins didáticos).
Enfim, divaguei. Aqui é o espaço oficial para que a personagem por trás da mascarada exponha suas vergonhas. Ainda não entendi direito por que fiz questão de criar um blog se não ia ter coragem o suficiente para atribuir sua autoria a mim. Talvez eu simplesmente quisesse saber que nem tudo ficaria escondido, guardado nos recantos de uma mente à qual ninguém tem acesso. Talvez eu só precise ter a sensação de que qualquer um pode saber o que eu sinto, e que se ninguém me ajuda é por que ninguém se importa. Não interessa se eu não dei o endereço disso pra quase ninguém, acho que no final foi um jeito de tentar me eximir da culpa que tenho por estar sempre sozinha. Óbvio que falhei, tanto no meu pedido mudo de socorro quanto no plano de expulsão do sentimento de culpa. Nem mesmo consegui parecer inteligente e escrever um blog digno de ser lido e procurado. Mas ao menos escrevi alguma coisa, então suponho que nada tenha sido em vão. Afinal, se eu não valorizar nem mesmo as pequenas coisas pelas quais fui responsável, minha vida toda vai parecer uma panela furada.
Voltei hoje de uma viagem incrível e tinha uma novidade me esperando: alguém está me chamando para crescer. E o pânico que eu sinto cada vez que penso no que isso significa me toma de tal modo que eu mal consigo respirar.
Eu tive até hoje uma existência marcada pelos grilhões da minha própria incompetência. Me prendi por muitos anos à pessoas que não me queriam perto delas, e nesse meio tempo magoei as que realmente estavam perto de mim. Me senti (ainda me sinto) por muito tempo responsável por uma existência e uma VIDA sobre a qual não tenho qualquer poder, uma vez que ninguém pode se ajudar melhor do que você mesmo. Passei tanto tempo me sabotando de tantas maneiras que nem consigo imaginar como é apostar em si mesmo. É natural que quando eu tenha um chamado do mundo real essa situação me assuste terrivelmente.
Tenho um objetivo, e há um ano venho mantendo-o como idéia fixa: amadurecer. O primeiro passo foi o de encontrar uma faculdade, alguma coisa que me parecesse viável fazer pelo resto da vida. Soa como uma coisa grande demais quando não se viveu nem um quarto do que pessoas normais da minha idade viveram, mas se eu não estabelecesse uma meta bem definida poderia estar perdida ainda no tempo e no espaço. O próximo passo, cada vez mais visível e assustador, é ser merecedora do meu dinheiro, tão absolutamente necessário nisso que se chama de mundo adulto.
Pensando nessas e outras coisas, me peguei percebendo o quanto estou atrasada em relação às pessoas que me rodeiam. O quanto deixei minha vida permanecer parada em prol daqueles que sequer tomavam conhecimento disso, o quanto fui controlada pelo meu próprio desejo secreto e humilhante de sofrer para receber atenção. Mas quando me dou conta, a sensação de que tantos possam sentir-se penalizados por uma criatura tão patética é tão sufocante quanto a inércia que insiste em me manter parada. E me afogo, cada vez mais, no meu mundo de fantasias suicidas, ao mesmo tempo em que tento desesperadamente bater os braços e me manter na superfície da realidade.
O mundo não tem lugar para pessoas que não se bastam. E pessoas também não mantém espaços reservados para aqueles que relutam em ocupá-los. Tanto quanto eu desejo escapar à humilhação de ser tão inferior, quero me manter perto dos que são superiores, na esperança de um dia ser digna da amizade deles. Mal consigo me manter em pé, enquanto minhas pernas protestam contra o impulso de fugir, mas eu não vou mais cair. Não pretendo deixar tudo desabar como um castelo de cartas mais uma vez, depois de tanto esforço para manter as verdades ocultas até que não fossem mais verdades. Está na hora de deixar de construir o meu castelo com cartas, e passar para uma casa real, de pedra e sentimento. Para que um dia, eu aprenda a dividí-la com outra alma como eu.
Como sempre, au revoir. Por enquanto.