terça-feira, 27 de julho de 2010

Era menina triste, tanto quanto se lembrava. Quer dizer, fora uma criança engraçada, mais parada que em movimento, sempre à procura de gente mais velha, ansiosa por mostrar os dotes que julgava que os pequenos não podiam ver. Cresceu assim, julgando os semelhantes à sua volta, desejando contínuas vezes um lugar que não era seu. Não era seu. Até perceber isso, experimentou intensamente o sabor de uma dolorosa ignorância.
Soube então que o que buscava, o fazia no lugar errado. Admitiu, então, o seu pecado e foi-se aventurar em outras paragens. Não foi, porém, bem recebida em território tão inóspito quanto estupendo. Os semelhantes neste lugar não eram seus como aparentavam, e a culpavam de não ser alguém que devia ser.
Descobriu dessa forma que quem era, era de maneira errada. Envergonhada dos novos erros cometidos, seguiu então para a viagem que a faria descobrir quem era e, desse modo, a guiaria para onde deveria ficar. Dessa vez, receosa de cometer novos enganos, limitou-se a observar como deveriam se comportar as pessoas do novo lugar. Não participando do cenário proposto, viu-se perdendo tempo e experiência. Do que devia fazer, fazia sempre o inverso, não importando o número de tentativas.
Que faz agora a menina triste? Quantas vezes mais terá que escutar que não pertence àquele lugar ou não se parece com quem deveria? Terá ela mesma que inventar o foguete que a tirará desta situação e finalmente a levará a seu planeta de origem? Ou deverá viver e morrer como a pária que nasceu para ser?

Ê saudade que me corrói a alma, da qual não tento nem consigo me livrar... Se é lembrado valeu a pena, mas também não volta mais... Que me deixem com minhas memórias inúteis, quem sabe se um dia novas se poderão construir.
Au revoir.

domingo, 11 de julho de 2010

It seems I'll just keep writing...

...'cus that's what's left for me, I guess.

Será que eu conseguiria? Quer dizer, eu realmente acho que eu não teria sequer paciência para ensinar um bando de crianças normais, o que me faz pensar que eu gostaria de ensinar as especiais? Eu não faço a menor idéia do que eu quero da vida e isso é quase tão angustiante quanto não saber que curso tentar no vestibular. Desta vez, no entanto, eu sei o que quero. Eu gosto de psicologia. Inclusive, gosto tanto que não sei por qual das linhas teóricas me decidir. Nenhuma me parece inaceitável. Por sua vez, nenhuma me parece irrefutável. O que fazer? Será que eu simplesmente não sou capaz de lidar com o que não foi cientificamente provado? Será que eu não seria capaz de confiar em nenhuma delas? Ou é em mim que eu não consigo confiar? Será que eu posso tratar a mente de alguém sem uma teoria séria e, principalmente, rígida por trás? Eu consigo? Mas então, como posso saber com qual delas eu me dou melhor, com qual eu realmente me encaixo? Eu não leio, puxa vida! Às vezes eu acho que este notebook foi a pior coisa que eu já comprei, porque afinal de contas, não me deixa tempo pra mais nada. Não que seja dele a culpa que é inteiramente minha. Mas eu simplesmente me deixo distrair a todo momento, nunca tenho ânimo pra finalmente começar a estudar com afinco, pois sempre tenho “mais o que fazer”. Well, guess what, eu nunca tenho. A internet é um saco, nunca tem ninguém no twitter, eu não agüento MSN já há muito tempo e... é isso, nunca tenho o que fazer. Então por que, ainda assim, eu nunca faço o que tenho que fazer para ficar fazendo NADA no computador?? Essa resposta eu ainda não tenho. E parece que ainda vai demorar pra consegui-la. Mas eu espero que não demore tanto assim. Afinal, eu tenho 22 anos e ainda não completei absolutamente nada, minha vida toda. E, uma hora ou outra, a gente tem que crescer. Bom, pelo menos é o que todos dizem.

Mas vamos pensar direito. Com qual das linhas eu acho que me daria melhor? Ultimamente, comecei a pensar muito em Gestalt. Seria ótimo, afinal é com ela que se aplica o psicodrama. Entretanto, eu sempre fico imaginando se a falta de, digamos, rigor científico me deixaria com um pé atrás. Ou dois. Ou, por que não o excesso de “amor” da teoria. Quer dizer, eu não sou capaz de aceitar qualquer um que entre no meu consultório. Um cara que já estuprou 20 mulheres entra no meu consultório dizendo que quer se tratar por uma erotomania, ou ninfomania, seja lá qual for o nome do transtorno. Eu conseguiria simplesmente acolher, AMAR um sujeito desses?? Nunca, antes eu teria medo dele e ficaria com calafrios por ter que ficar sozinha no mesmo ambiente que um cara desses. Ou pior, teria raiva ou até mesmo nojo dele. Bom candidato à cliente, não?

Mas, quem sabe a sócio-histórica? Mas com ela, voltamos à velha questão das crianças especiais. Sabe, esse assunto realmente mexe comigo. Em documentários, textos, fotos. Mas vida real? Encare, eu mal consigo lidar com crianças! Imagine então uma que não enxerga, ou não ouve, ou, pelo amor de deus, os dois! Eu nunca quis ser professora, NUNCA! Nunca tive tal ambição. E no entanto, é no que mais eu tenho pensado nos últimos dias. Nem mesmo meu pai achou uma boa idéia que eu virasse uma professora especial. Pra minha mãe, melhor nem perguntar. Ela acha que eu não consigo lidar com ninguém, ao que parece. “Você vai se encher com essas pessoas, vão te dar tédio! Você não vai conseguir!” Aliás, parece que é só o que ela sabe dizer a respeito de tudo que eu faço. Mas este é um outro assunto. Seja como for, não sei bem o que fazer. Eu tenho certeza que não daria certo. Eu não quero nem mesmo ter filhos! Mas quem se importa? Quem se importará? Eu não quero mais ficar indiferente, mas algo me diz que se você não entra de cabeça numa coisa dessas você não entra nunca mais. Mas eu realmente acho que eu não consigo.

Com crianças especiais ou não, o que eu queria mesmo saber é como ocorre o desenvolvimento de tudo. Como nos tornamos humanos. A antropologia da coisa. Eu realmente gosto disso, e concordo com tudo que a teoria sócio-histórica tem a dizer a esse respeito. Quer dizer, é a que mais fala sobre isso. Nenhuma outra gasta tanto tempo tentando explicar por que somos o que somos. E essa é mesmo a parte que eu mais gosto. Mas, e daí? Com que eu posso trabalhar na sócio-histórica? Eu só vejo salas de aula no meu caminho. É possível clinicar? Tipo, normalmente, sem que para isso eu precise atender pacientes de favela num posto de saúde perigoso? Eu PRECISO ser marxista, ou no mínimo COMUNISTA para tanto? Por que comunistas não comem criancinhas, mas eu me sentiria extremamente hipócrita dizendo que sou uma, quando na verdade... bom, olha pra mim. Posso não ser uma “material girl”, ou não totalmente, mas não sou nem um pouco comunista. Eu não luto pela igualdade social, não faço nada para mudar o mundo, embora sinta essas dores. Talvez por isso mesmo queira afinal deixar essa posição egoísta e começar a realmente FAZER alguma coisa pelos que precisam. Mas eu tenho preguiça. Preguiça de tudo. QUEM sou eu para tentar mudar o mundo? Eu NÃO quero deixar de comer carne. Eu NÃO quero que todos tenhamos que usar o mesmo macacão azul porque a moda é apenas um modo de incentivar o consumo. Eu gosto de me expressar com roupas, ao menos de vez em quando. Eu gosto de jantar em churrascarias caras às vezes. O que eu queria é que todos tivessem esse direito, mas será que é possível? Por que se não for, eu não estou certa de que possa abdicar de certos prazeres. Pelo menos, não ainda. It seems I’m still my good old egoistic self… And, as always, I still DON’T like it al all.

Au revoir.